“Eu sonhava bastante em relação à minha família”, afirma a jovem que permaneceu 42 dias no hospital
O véu da morte ainda torna-se um mistério sobre a incerteza que nos espera do outro lado. Da fé à ciência, há diversos relatos e estudos baseados em pessoas que tiveram a oportunidade de observar de perto da ponte da travessia, dentre elas, Keila Danubia de Souza, de 18 anos, moradora da localidade do Palmital, em Garuva.

No final de agosto, a jovem ia para o trabalho de moto quando, de acordo com conclusões dos policiais, perdeu o controle após ser fechada por um caminhão e caiu em cima de pedras pontiagudas, em uma ribanceira de, aproximadamente, 10 metros. As únicas lembranças que tem, foi o pedido de oração para um dos socorristas: “ore por mim”, disse antes de desmaiar. Desacordada, foi encaminhada ao Hospital São José, em Joinville, onde permaneceu 42 dias, dentre eles, 37 na UTI e 25 em coma.
“Eu sonhava bastante em relação à minha família”
Keila afirma que durante seu estado de coma induzido, teve vários sonhos com toda a família. Ao tentar rememorar, ela se lembra bem de um deles, aquele que ela considerou um chamado para seu retorno.
“Estava com a família inteira, como se eles estivessem na frente de um muro, e estavam cantando uma música: ‘Keila, Keilinha, nós estamos aqui’, é como se tivessem me incentivando a acordar ou a lutar pela vida, e esse sonho durou um tempão; era toda a minha família: irmãos, cunhados, com a minha mãe pai e sobrinhos, eles cantavam repetidamente, para me animar”, conta a jovem que acredita que o sonho era uma forma de incentivar sua recuperação.

Mesmo em coma, a família de Keila observava reações na jovem, que não se recorda desses fatos que ocorreram durante as visitas. Em uma delas, chegou a abrir os olhos quando ouviu o nome de uma sobrinha com quem é muito apegada. Outro momento especial, foi com seu pai. “Quando meu pai foi me visitar pela primeira vez, ele disse que saiu uma lágrima do meu olho”, conta sobre o que ouviu após acordar.
O despertar
Vinte e cinco dias após ser induzida ao coma, Keila despertou. Para ela, foi um sentimento de desespero acordar em um local estranho, cheio de aparelhos, os quais, ela tirou e desceu da cama e tentou sair, mas foi impedida pelas enfermeiras que chegaram no momento. Ao retomar a consciência do que havia acontecido, a garuvense teve a certeza de que foi salva pelo divino, à medida que se recuperava rapidamente.

“Perdi sete órgãos: o baço, a bílis, o pâncreas, a vesícula; 80% do fígado e um pedaço do rim e não fiquei com nenhuma sequela. Posso andar normalmente”, revela a jovem que também cortou o rosto e quebrou o braço em dois lugares.
Ao mencionar o que, para ela, é um milagre, Keila destaca sua fé e a fé de sua família como ferramenta de recuperação, pois teve a certeza de que sairia do hospital viva, devido às provações que deve, e por não ter morrido no acidente. Ela lembra de uma passagem bíblica no livro de Hebreus:
“A fé é a certeza daquilo que esperamos, e a prova das coisas de que não vemos”.
Uma outra vida
Para a jovem, já recuperada e em casa, há uma Keila diferente, agora. Alguém que sabe ouvir melhor sobre a chance de uma vida melhor. “A gente nunca sabe o que pode acontecer no dia de amanhã; ame hoje, perdoe hoje, abrace hoje. A vida pode acabar num piscar de olhos”, aconselha ao destacar que saiu de casa para ir ao trabalho sem saber o que iria acontecer.

Como missão de uma nova vida, Keila levará seu testemunho de recuperação para os jovens que, segundo ela, “acabam destruindo a vida com drogas e álcool”. Outra meta que colocou em sua vida, é a vontade de cursar medicina, para retribuir aos demais a ajuda que teve no hospital. Ainda em gratidão, a jovem agradece ao Sistema Único de Saúde (SUS), pelos cuidados que teve durante sua internação. “Foi tratada como ouro, não mediram esforços para salvar minha vida”, finaliza.
Texto: Herison Schorr
Escritor e jornalista formado pela Faculdade Bom Jesus Ielusc
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